Em Audiência Pública, Executivo é cobrado quanto à implantação do Plano Cicloviário
“A mobilidade urbana, os veículos não motores, é a tendência número um em muitos países desenvolvidos. Desde 2015, o tema não foi mais debatido em Montenegro, sendo muito importante retomarmos o assunto”.
Opinião compartilhada pelo presidente da Associação Ciclística Montenegrina, Paulo Renato Petry: “a Aciclomont completa seis anos de existência, em julho. Desde o ocorrido em 2015, nada mais foi feito”. Em sua visão, os praticantes divulgam o ciclismo “não somente quando colocamos um traje apropriado para sua prática, mas também aos sábados pela manhã indo ao centro com a bicicleta, indo para o trabalho, de bicicleta”.
Reforça: “é preciso que o Plano de Mobilidade Urbana seja colocado em execução”. Conta que no ano de 2010, foi aberto um processo, elaborado um projeto, um Termo de Referência, “foram atendidos todos os aspectos técnicos, para que houvesse a edição da Lei que instituiu o Plano de Mobilidade Urbana, que foi elaborado a partir de estudos de pessoas com qualificação, capacitados para isto, de forma que modais alternativos de transporte, como a bicicleta, fossem contemplados no Plano viário de Montenegro. O que nós temos de 2015 para cá? Nada!”
Lembra que, em audiência no Gabinete, representantes da Aciclomont ouviram do prefeito anterior que uma das prioridades do Governo era a execução do projeto aprovado em 2010. “Passou 2015, 2016, 2017, houve mudanças políticas na cidade, e continuamos exatamente no marco zero”. Há alguns meses a Aciclomont foi consultada pela Administração, “para que indicássemos qual seria o melhor lugar para a continuação da ciclovia em Montenegro, pois havia possibilidade de um recurso ser disponibilizado para construí-la”, revela.
Através de um ofício, a entidade sugeriu uma ciclovia saindo do centro e seguindo em direção à Timbaúva, “pois Bairros como São Pedro, São Paulo, Germano Henke e Timbaúva são os que concentram o maior fluxo de ciclistas, ou seja, no momento em que o ciclista entrasse na ciclovia, ele não precisaria mais sair”. Ele entraria na Timbaúva e viria até o centro da cidade, “protegido, guarnecido por uma ciclovia, sendo preferível esta a uma ciclo faixa”. Conforme Petry, “queremos uma ciclovia, aonde haja o isolamento definitivo do ciclista, de forma que ele possa ter segurança. Não aconteceu nada. Estamos em maio, não ouvimos e vimos nada, não está acontecendo algo, efetivamente”.
“O irmão maior cuida do irmão menor”
Finalizou: “como entidade legalmente constituída, viemos aqui manifestar: é preciso dar início ao desenvolvimento de um projeto viário de Montenegro”. Questionou: “por que nós, ciclistas, somos vistos como marginais ou como menores? Não somos menores. Temos, em nossa concepção, aquela frase: “o irmão maior cuida do irmão menor”. O motorista do automóvel tem que “pegar o ciclista pela mão”, o “ciclista tem que pegar o pedestre pela mão”, todos nós temos que cuidar um do outro, mas a desvantagem é nossa, do ciclista. Espero que realmente saiamos daqui com algo efetivo, queremos que as coisas realmente aconteçam. A Aciclomont se coloca à disposição”.
O Chefe de Gabinete Edar Borges Machado, representando o prefeito Kadu Müller, afirmou: “como especialista em trânsito, não tenho nenhuma dúvida em dizer que o caminho do futuro é sobre duas rodas, não motorizado. O Mundo inteiro já pensa assim”. Comenta que uma parte do Plano de Mobilidade Urbana foi implantado e outra não. “Tudo parou quando nós tivemos uma ciclovia no meio da rua, o que gerou os desdobramentos que todos sabem. Ali parou tudo. Foi um pecado, na verdade. Deveríamos ter continuado a dar sequência ao que estava planejado, isto não acontece”.
Na visão de Borges, passados quase nove anos da criação do Plano, “não tenho nenhuma dúvida em dizer que ele é necessário, tem que ser executado, mas em função novas situações é preciso uma reavaliação deste processo, para que seja implantado”. Considera que há questões que precisam ser enfrentadas, prioridades a serem ajustadas. “A Administração Kadu se propõe a executar o Plano, com responsabilidade, probidade. Fazer as coisas de afogadilho, sem pensar, todos sabemos o que aconteceu. Vamos fazer junto, pensar junto, construir junto, Montenegro merece isto”.
Mudança de paradigma
O Arquiteto, Urbanista e especialista em Mobilidade Urbana, Vinícius de Tomasi Ribeiro, coordenador da bancada do PDT na Assembleia Legislativa, lembrou que as cidades foram concebidas para um tipo de modelo de as pessoas se locomoverem, e que atualmente existe outro. “É preciso nos adaptar a esta mudança de paradigma, em que a prioridade é o pedestre, a segunda é o ciclista e a terceira, o transporte coletivo e, por fim, o transporte individual”. Acrescenta: “o Plano Cicloviário tem muitas vantagens, tanto para a saúde da comunidade, como para o meio ambiente. Atualmente, a mobilidade urbana não prioriza os maiores usuários, o pedestre e o transporte não motorizado, que é o ciclista. Prioriza quem ocupa maior espaço, quem emite mais gás carbônico e quem gera maior gasto de infraestrutura para o Poder Público”.
Na visão de Ribeiro, não se constroi um Plano Cicloviário sem, primeiramente, ter infraestrutura. “Em segundo lugar, estacionamento e estações para bicicletas. Ninguém vai para o seu destino se não tem onde deixar a sua bicicleta. Há necessidade de mudar as legislações, para que obriguem a criação de vagas para estacionamento, as quais podem ser privadas ou públicas. A terceira característica de um Plano é a existência de um sistema de informações mínimo, para as pessoas que circulam na cidade. Por fim, a integração dos diversos modelos de transporte. O segredo para um Plano Cicloviário é ter continuidade, podendo ser implantado, por exemplo, em uma quadra por mês, uma a cada quinze dias, mas tem que haver uma continuação”.
O presidente da Câmara, Vereador Erico Velten (PDT), lembrando o período em que trabalhou numa fábrica, calcula que metade dos funcionários usava a bicicleta como meio de transporte para se deslocar ao trabalho. “Já havia um temor com o risco de ciclistas sofrerem algum acidente, por andarem no acostamento das estradas”. Lamentou a não continuidade do projeto de construção de ciclovias, interligando diversos bairros ao centro da cidade. “Não avançou nada. Compete a nós cobrarmos, também, do Executivo, e unirmos forças, porque quem ganhará com isto é a nossa comunidade, os nossos filhos, porque o principal benefício desta ciclovia será o de proporcionar segurança para nossos ciclistas”.
Diz que, com a não continuidade da construção de ciclovias, “a população foi a maior prejudicada, os ciclistas, que agora estão lutando para que prossiga este processo, de forma que se dê o mínimo de segurança”. Para Erico, talvez isto leve tempo, “mas é preciso avançar, dar o primeiro passo. Dependemos do Executivo, mas o Legislativo está dando apoio para que siga adiante, e está sendo bem representado pelo Vereador Cristiano, o qual tem o apoio dos demais Vereadores, que desejam o prosseguimento deste assunto. Meu desejo é o de que esta Audiência tenha resultado”.
Marco na retomada do Plano
Marcos Antônio Fritch, também da Aciclomont, iniciou afirmando: “troque seu símbolo de status por um de inteligência”, referindo-se ao carro e a bicicleta, a qual qualificou como uma “solução simples para os problemas mais complicados do Mundo”, entre os quais a poluição, a proximidade do término da oferta de combustíveis fosseis e o aumento dos casos de obesidade. Lembra que recente passeio ciclístico em Gramado, atraiu mais de quatrocentos participantes, “unindo o bem-estar ao turismo”.
Para Rafael Altenhofen, presidente do Condema, está havendo uma morosidade e omissão do dever de fazer. “Há planejamento e deliberações, o que precisamos é implementação, seja para atender a demanda da população, que irá utilizar a ciclovia como um espaço para o trânsito seguro, seja para lazer ou para o esporte”, diz, alertando: “estamos cansados de promessas furadas".
Na conclusão da Audiência, o pedido do representante da Aciclomont, de que a Prefeitura efetivamente se comprometa com a implementação do Plano Cicloviário. “Talvez necessite pequenas adaptações, mas isto tem que acontecer, é inadiável, é uma questão não somente de facilitar a vida do ciclista, de proporcionar que o ciclismo, como meio de transporte, seja utilizado, mas, fundamentalmente, defender a vida. Gostaria de ouvir da Prefeitura que será dada efetividade a esta questão”.
“Esperamos que esta Audiência Pública seja o marco da retomada do Plano Cicloviário, que foi interrompido em 2015, e ninguém teve a coragem de falar sobre isto. Vamos trabalhar de forma compartilhada, com todas as partes envolvidas: Aciclomont, Executivo, Conselhos, líderes comunitários e sociedade, para que haja a implementação do Plano. Este é um compromisso não só com os ciclistas ou com quem defende uma mobilidade urbana humanizada, mas para quem defende o futuro de Montenegro”, finalizou o Vereador Cristiano Von Braatz.