Solene da Câmara homenageia os 50 anos das Comunidades Terapêuticas no Brasil

por adm publicado 07/06/2019 14h47, última modificação 07/06/2019 14h47
A Câmara Municipal de Montenegro, por iniciativa do Vereador Juarez Vieira da Silva (PTB), realizou quinta (06) Sessão Solene em homenagem aos 50 anos das Comunidades Terapêuticas, no Brasil. Conforme registros, a primeira comunidade iniciou em 1978, em Goiás:

                a Missionária Presbiteriana Ana Maria. O proponente, em seu discurso, destacou o “lindo trabalho” de assistência aos dependentes químicos. “Como evangélico, conheço bem de perto esta realidade, e fico feliz que nosso município tem três entidades que fazem um ótimo trabalho: Desafio Jovem, Recreo e Fazenda São Francisco”.

         Mencionou que existem cerca de duas mil comunidades terapêuticas em todo o país, sendo em torno de 230 no Rio Grande do Sul, com mais de sete mil acolhidos. “Sabemos das dificuldades que elas passam com os poderes públicos, sem apoio. Estou aqui sempre à disposição, como vereador, deste trabalho tão importante. Há muitos anos, trabalhamos em prol destas pessoas que, por uma razão ou outra, se deixaram levar pelo vício, pela dependência química, tendo suas famílias desmanchadas”.

         “Gostaria de agradecer a Roque Serpa, o representante de todo este trabalho, assim como aos integrantes das três comunidades de Montenegro. Muitas vezes, a população não se dá conta da importância deste trabalho prestado em nosso município. O Poder Público não tem condições de atender tudo, e estas três entidades estão à disposição para ajudar tanto o povo montenegrino como o de outras cidades que vêm para cá para serem atendidos”, prosseguiu o petebista.

         Conta que, em algumas ocasiões, foi procurado por “famílias que estão destruídas, por terem entre elas algum dependente químico”. “Muitas vezes, liguei tarde da noite para o Ezequiel (integrante de comunidade) e aos finais de semana, pedindo apoio, dizendo que tínhamos um jovem aqui, que precisaria ser internado. A gente vê a transformação destas pessoas, quando retornam. Nos deixa muito feliz saber que temos parcerias, pessoas que nos apoiam neste trabalho, que fazem este trabalho acontecer”, elogiou Juarez Vieira.

         Disse que as entidades trabalham tanto com a parte física, relacionada à dependência física, “quanto com a parte espiritual, que é o que transforma”. Em sua maneira de ver, “dá um índice muito maior de recuperação quando as pessoas deixam Deus entrar na sua vida. Tudo se completa e vimos resultados positivos, como os existentes”.

         Acrescenta: “sabemos que não é fácil, que é difícil sair deste mundo. Porém, tem uma saída, e quando vemos pessoas que dedicam a sua vida para ajudar as outras, isto nos deixa feliz. Esta é uma noite em que parabenizo todas estas equipes que fazem um trabalho especial, não esquecendo a Secretaria de Saúde, que tem dado todo o apoio necessário para que estas entidades desenvolvam o trabalho maravilhoso que vocês fazem”. 

“Talvez, não estivesse aqui hoje”

         Na sequência, um coral de comunidade terapêutica cantou um hino de louvor, antecedendo o discurso de Roque Serpa, presidente da Federação das Comunidades Terapêuticas do Rio Grande do Sul: “em 1993, passei por um programa de recuperação, e se não fosse uma comunidade terapêutica, talvez, eu não estivesse aqui hoje. Estou a 26 anos caminhando neste processo, e a cada dia temos que agradecer a Deus, por mais um dia de vitória”, diz Roque, que há 23 anos, fundei a primeira comunidade terapêutica, em São Sebastião do Caí.

         Conforme Serpa, “anteriormente, as comunidades viviam o período da clandestinidade, da informalidade, porque não havia leis, e este problema trazia grande consequência às famílias”. Prosseguiu: “os líderes religiosos e pessoas da comunidade vão criando métodos empíricos para atender as demandas como aconteceram com as comunidades terapêuticas”. Lembra que houve uma explosão de drogas e alcoolismo no Brasil. “A  sociedade foi dando uma resposta, em face da morosidade do estado. As comunidades terapêuticas nasceram a partir de uma omissão do Estado, por não fazer algo em prol deste tema”.

         Para ele, atualmente é impossível falar em recuperação dos dependentes químicos, no Brasil, sem falar nas comunidades terapêuticas. “São quase duas mil, formalizadas, mas devem passar de 2500, contando com 83 mil acolhidos, homens e mulheres. No Rio Grande do Sul, são em torno de 234, que atendem sete mil pessoas, aproximadamente”.

         Salienta que foi um trabalho que nasceu em um processo de omissão do Estado, no período de crescimento de uma epidemia do uso de drogas e o alcoolismo, “sendo que este pessoal foi sobrevivendo da maneira que era possível”. Relata que lideranças religiosas, igrejas, associações de bairro, grupos de apoio, foram trabalhando para que este segmento pudesse ser o que é nos dias de hoje. “Atualmente, vivemos um processo de ‘pavimentação’ deste caminho, através das legislações. Tivemos a oportunidade de participar da elaboração da Lei que regra o funcionamento das casas de recuperação do estado do Rio Grande do Sul. Posteriormente, fomos chamados a participar da elaboração do marco regulatório das comunidades terapêuticas do Brasil”.

Reconhecidas por Lei

         Para Roque, houve um avanço muito grande, “e atualmente as Comunidades Terapêuticas são reconhecidas, por Lei, como um método eficaz na recuperação de dependentes químicos, respeitando as suas origens, que é a convivência entre seus pares, e onde são realizadas atividades laborais pelos próprios acolhidos, o que faz parte do próprio programa terapêutico, e a espiritualidade, dentro dos pilares da própria recuperação. Entendemos que as terras do Brasil são para produzir arroz, feijão, aipim, e outros, mas não para plantação de drogas”.

         Em seguida, o coral da comunidade terapêutica de São Sebastião do Caí cantou um hino de louvor, e os presentes à Sessão puderam ouvir o testemunho de um recuperado, identificado apenas pelo seu primeiro nome, Márcio, de 42 anos.  “Há 21 anos, fiz um tratamento no Recreo. As comunidades terapêuticas são o efeito que a comunidade precisa enxergar para muitas situações, não apenas na questão da dependência química, mas também na restauração das famílias, no cuidado com a saúde pública e a segurança pública, porque elas servem de profilaxia, de cuidados, para muitos males que ocorrem na sociedade, hoje”.

         Prosseguiu: “o alicerce da minha recuperação, toda a base, é Cristo, é o lado espiritual, porque por mais que as pessoas e os governos auxiliem as comunidades, vai ter aquele momento em que tu vai estar sozinho, que tu vai bater de frente com uma situação e vai ter só Deus do teu lado para te amparar, não deixar o “soldado ferido” morrer”. Ainda mencionou Otávio Luiz dos Santos Furtado, que não estava presente à Sessão, diretor do Recreo, “que foi uma ferramenta que Deus colocou na minha vida, foi meu professor no início do meu tratamento. Ele é uma “enciclopédia” na questão da recuperação. Com certeza, Deus o usou para fazer a diferença na minha vida”.

         Também falou sobre sua experiência Angélica, 32 anos, de Alvorada: “nos próximos dias estarei concluindo meu tratamento terapêutico, de nove meses, na comunidade Desafio Jovem Gideões, motivo de alegria não só para mim e minha família, mas para aqueles que estão acompanhando meu tratamento”. Lembra que “desde os 13 anos, tive envolvimento com o uso e abuso de drogas e o alcoolismo. Quando entrei para uma Comunidade, eu era totalmente sem esperança, e agora tenho esperança de ter uma vida, de ter uma família, e creio que uma comunidade terapêutica consegue fazer de novo que a gente consiga ser alguém. Existem levantamentos apontando que aproximadamente um milhão e duzentos mil brasileiros fazem uso de drogas. Agora, uma a menos não faz. Sou eu, só por hoje”.

         A Sessão também contou com os pronunciamentos do prefeito Kadu Müller (PP) e da Secretária Municipal da Saúde, Loreni Cristina Reinheimer, a qual afirmou que “o trabalho do CAPS é de extrema importância, porque nele é fornecido o tratamento pós-terapia, pós-internação. Necessitamos da atenção básica, para esta internação”.